Zasshu 2


20 - Não é a única

  - Sassa má! É feio fazeres-te de morta! - Repreende Mia.
  Night Eyes estava agora reunida com Lúcifer e Mia, que tinha insistido para ficar.
  Lúcifer estava sentado por detrás de uma secretária e Mia sentada na secretária. Night Eyes estava de pé, cabisbaixa, esperando o que Lúcifer lhe diria.
  - Sakuya, sabes que por muito que me desagrade esta situação, na verdade esses teus novos poderes podem ser muito úteis.
  - Sim Padrinho.
  - E tu precisas de aprender como é que se lida com eles. É por isso que te vou contar um segredo.
  Mia salta da secretária para o colo de Lúcifer.
  - Eba! Adoro segredos!
  - Mia, já não é um segredo para ti. - Diz Lúcifer irritado com a impertinência dela.
  - Oh... - Ela cruza os braços amuada.
  Lúcifer estende um livro velho encadernado com pele vermelha e letras douradas. Pela maneira da escrita, o livro devia ter mais de oitocentos anos.
  Night Eyes pega nele e observa-o. Lúcifer incentiva-a a abri-lo. Ela cede um tanto relutante. As runas existentes deram-lhe algum trabalho pois à algum tempo que não lia línguas mortas.
  À medida que desfolhava o livro entendia menos o que o Padrinho lhe queria dizer.
  - Padrinho, não percebo o que este livro de lendas tem a ver comigo.
  Lúcifer sorri compreensivo. Pede-lhe o livro de volta e abre-o numa página especifica voltando a devolvê-lo a Night Eyes.
  Ela passa os olhos pela página.
  - Mestiços? - Pergunta depois de analisar o que acabara de ler.
  - Sim.
  - Pensei que isso era o que chamavam aos Híbridos.
  - Mas não. Os ignorantes é que acham que Híbridos e Mestiços é o mesmo.
  - E qual é a diferença?
  Mia mete a mão no ar para responder. Lúcifer dá-lhe permissão.
  - Os Híbridos são os seres que nascem de pais de diferentes espécies enquanto os Mestiços são seres que adquirem qualidades e capacidades de outras espécies já em adultos. Expliquei bem não expliquei Lulu?!
  - Explicaste. Linda menina. - Lúcifer afaga a cabeça de Mia e ela começa a ronronar feliz.
  - Então eu sou o quê? - Night Eyes tinha uma expressão nervosa.
  - No momento és os dois. - Explica Lúcifer.
  Night Eyes estava com dificuldade em entender. Ainda à dias era apenas ela e agora  achava que havia algo mais a tentar sobressair na sua personalidade. Talvez o seu novo lado, o lado Lobisomem.
  - Eu compreendo a tua relutância. Mas agora com esses poderes tens de aprender a controlá-los, e claro, a domesticar o teu lado lobo.
  - Mas como?
  - É agora que vem o segredo. Apesar de não serem conhecidos e poucos saberem da sua existência, existem alguns Mestiços por aí. Por sorte eu conheço todos eles. - Lúcifer parecia orgulhoso do seu feito.
  - Isso quer dizer que vai apresentar-me a um Mestiço?
  - Uma, para ser exato. E eu não vou, tu é que vais. A meu mando, mas eu não irei.
  - Então como... - Night Eyes é silenciada por Lúcifer.
  - Tens aqui tudo o que precisas saber para a encontrar. - Lúcifer dá um papel a Night Eyes. - O nome dela é Mona Snake. Mas aconselho-te a levares pelo menos três pessoas contigo.
  - Porquê? - Night Eyes não estava certa de que aquilo era boa ideia.
  - Porque ela é bruxa e tem duas bruxas muito famosas e competentes como "guardas".
  Night Eyes engole em seco.
  - Não me diga que são as irmãs Black Heart.
  Lúcifer confirma.
  Night Eyes solta um largo suspiro e leva a mão à cabeça em desespero.
  - Não leves nenhum dos Híbridos contigo. Eu dispenso-te dois dos membros dos meus grupos. Podes escolher quem quiseres de qualquer dos grupos. E vai até ao clã de Bruxos e pede a alguém que vá contigo.
  - Não é necessário, eu já sei quem vou levar. Obrigado Padrinho.
  Depois de se despedir, Night Eyes faz uma vénia e sai do escritório.
  Mia encara Lúcifer desconfiada.
  - Lulu, tu sabes que a Mona te detesta, achas mesmo que ela vai ajudar a Sassa?
  Lúcifer sorri melancólico.
  - É por ela me detestar que a vai ajudar.

21 - Companheiros para uma luta

  Depois de refletir, Night Eyes decide seguir o conselho de Lúcifer e levar dois membros dos grupos dele.
  Vai até Luka Kyofu e pede permissão para levar Ken. Ken apesar de ser um demónio bastante poderoso também tinha grande habilidade com armas. Por isso um dos seus poderes mais temidos era as invocações de armas. Era bastante misterioso e falava muito pouco. Era conhecido como o "Terror Silencioso".
  Depois disso dirige-se a Luka Osore pedindo-lhe Satsujin-han. Ela tinha sido uma grande senhora da guerra. Night Eyes conhecera-a no dia em que ela chegara ao Inferno. Andava perdida e desconfiada. Quando conseguiu aproximar-se dela levou um tiro. Satsujin-han quando viu o ferimento de Night Eyes desaparecer instantaneamente apercebeu-se logo que já não estava na Terra. Foi Night Eyes que a levou a Lúcifer e aí recebeu o seu cargo no Grupo 2. Como nunca perdeu o amor pelas armas, pediu a Night Eyes que selá-se os seus poderes nas tatuagens que tinha e dedicou-se a usar em lutas apenas artilharia pesada. Isso valeu-lhe o cognome "General da Morte".
  Já com Ken e Satsujin-han, Night Eyes segue para as terras dos refugiados.
  Apesar de desconfiados, Ken e Satsujin-han, não prenunciaram uma palavra, apenas a seguiram.
  O destino deles era uma cabana isolada feita de madeira que dava a sensação de estar abandonada à anos.
  Night Eyes bate à porta. Só segundos depois obtém uma resposta. A porta abre-se devagar com sucessivos rangidos.
  Eles entram.
  Uma rapariga estava sentada numa cadeira de balouço de perna cruzada. O seu cabelo vermelho brilhava consoante as labaredas da fogueira e a sua cara estava tapada por uma máscara ninja.
  - Lúcifer-sama lembrou-se de mim?
  - Não Warui, eu lembrei-me de ti. - Responde Night Eyes.
  Warui era uma bruxa renegada. Tinha deixado o seu clã por não concordar com os membros da chefia, dos quais um deles era o pai de Ramon.
  - Já soube o que te aconteceu. - Warui olhava curiosa para a tatuagem de Night Eyes.
  - Duvido que haja alguém que não saiba.
  - Acho que tens razão. E para vires até mim e com eles, - Warui acena na direção de Ken e Satsujin-han - é porque vão a algum lado. Não me digas que Lúcifer-sama mandou-te ir ter com a Mona?
  - Como sabes?
  - Porque é típico dele mandar as pessoas pedir ajuda aos seus inimigos.
  - Inimigos? - Night Eyes estava confusa. Lúcifer não seria capaz de a enganar, ou seria?
  - Ele não te disse? À bastante tempo que a Mona Snake odeia o Lúcifer-sama.
  - Mas...
  - Apesar disso, é bastante provável que ela te ajude.
  Night Eyes dirige o seu olhar a Warui. Com a máscara era difícil perceber, mas ela parecia estar a sorrir.
  - Eu ajudo-te. Vais ter problemas com as Black Heart se não levares alguém que perceba de magia. Mas com uma condição. - Warui levanta-se da cadeira.- Tens de me deixar examinar essa tatuagem.
  - Combinado. - Night Eyes leva a mão ao pescoço relutante com tudo aquilo.
  - Então vamos que o dia já vai longo. - A bruxa estala os dedos e as suas armas aparecem-lhe nas mãos.

(Imagens das novas personagens na página de personagens**)

22 - Mona Snake, a bruxa Mestiça

  O mapa que Lúcifer lhe dera mais parecia um labirinto. Fazia quase um dia que andavam às voltas nas Planícies da Morte.
  Uma casa da árvore numa clareira era o que procuravam. O problema é que à tempos que não viam uma única árvore.
  Nigth Eyes começava a achar que estavam perdidos mas Warui continuava a insistir que estavam perto.
  - Sakuya-hime* estamos muito perto. - Afirma Warui estacando no meio do nada.
  - Warui, estamos num sitio deserto!
  - Não vejas com os olhos, vê com a mente.
  Night Eyes olha em redor. Continuava a ver a mesma paisagem que via à horas.
  Warui atira um seixo para a frente. Um fino cortinado invisível oscila.
  - Espero que estejam prontos pois vamos entrar no território da "cobra". - Avisa Warui trespassando a barreira.
  Night Eyes e os companheiros seguem-na.
  A paisagem do outro lado do cortinado era totalmente diferente. Uma floresta enorme, os pássaros cantavam, o sol entrava por entre as ramagens altas e volumosas das árvores.
  - Preparem-se. Um metro aqui tem mais perigos do que um quilómetro lá fora. - Diz Warui desembainhando a sua espada.
  Os companheiros imitam-na. Night Eyes invoca Izanagi, Ken materializa duas katanas e Satsujin-han destranca o gatilho de uma metralhadora.
  À medida que avançavam o nervoso miudinho aumentava. Cada passo provocava um ruído surdo e desconfortável.
  Warui manda-os parar. À sua frente encontrava-se uma clareira e numa árvore central uma casa da árvore.
  Estava tudo silencioso. Demasiado silencioso.
  Ouve-se um galho a partir e no momento em que olham nessa direção um raio de energia passa pelo meio deles.
  - Nee-san parece que estão a invadir o nosso território.
  - Tens razão nee-san. O que devemos fazer?
  - Quem sabe. Uh, parece que está ali uma amiga nossa Kuroi-nee! Olá Warui!
  - Yami-nee não deves dar confiança aos intrusos.
  Warui dá um passo em frente.
  - Black Heart nós queremos ver a Mona.
  - E quem és tu para exigir alguma coisa? Yami-nee, vamos livrar-nos destes lixos.
  Yami e Kuroi eram as famosas irmãs Black Heart. Irmãs gémeas, porém diferentes, nascidas no ceio de vários bruxos e mágicos poderosos, viveram isoladas do mundo até se tornarem leais servas de Mona Snake.
  Night Eyes não parecia muito confiante. Sabia que Warui era forte mas lutar contra as Black Heart era demais.
  As irmãs partem para o ataque. Satsujin-han é a primeira a defender-se descarregando um lote de munições nas Black Heart.
  Nenhuma das balas as atinge e Ken salta para atacar Yami. Warui dirige-se a Kuroi.
  Night Eyes aproveita a distração para tentar chegar à casa da árvore, o que não resulta pois Kuroi apercebe-se das suas intenções e atira-lhe uma bola de energia projetando-a contra uma árvore.
  Já farta daquela luta que se prolongava por demasiado tempo, Night Eyes ergue-se do chão e começa a andar na direção dos companheiros e das Black Heart:
  - Chega! Estou farta disto! - Ela assume a sua forma de lobo e com as suas asas atira as irmãs para o meio da clareira rugindo.
  - Interessante. - Sussurra Warui.
  Quando Night Eyes está para voltar a atacar as bruxas caídas, uma voz ecoa pela clareira.
  - "BASTA! NÃO QUERO CONFUSÕES NA MINHA CLAREIRA. EU RECEBO-VOS."
  Warui sorri satisfeita.
  - Muito bem. Convenceste-a. - Warui bate no dorso de Night Eyes incitando-a a voltar à forma humana.
  Eles entram na casa. Uma mulher estava sentada num sofá com um cobertor a cobrir-lhe os membros inferiores. Yami e Kuroi, ainda contra à vontade, posicionam-se por detrás do sofá em alerta.
  - Aquele Anjo obsceno tem uma grande lábia. Mandar-te até mim.
  A voz de Mona era como uma música de encantar e o sibilar que ela produzia ao dizer os S causava arrepios a Night Eyes.
  - Mona viemos pedir-te ajuda. - Fala Warui.
  Mona Snake olha de relance para a bruxa.
  - E tu devias ter vergonha em aparecer aqui. Depois de me roubares...
  - Mona-sama. - Night Eyes dá um passo em frente. - Não me interessa as suas desavenças com o meu Padrinho. Não entendo porque ele me mandou aqui se vocês não se dão, mas agora que aqui estou não vou regressar sem fazer aquilo para que vim. Mona-sama, peço-lhe que me ensine e treine.
  Mona apresentava-se inexpressiva.
  - Muito bem. Apesar de não me agradar muito. Mas não os quero nos teus treinos. Podem ficar mas os treinos serão só eu e tu.
  - Combinado.
  Mona endireita-se e remove o cobertor. No lugar das pernas havia uma cauda de serpente.
  - Sakuya Night Eyes a partir de hoje deixas de ser Híbrida e tornas-te numa Mestiça!

*hime - princesa.
(Imagens novas **)

23 - A missão por detrás da missão

  A sala dos Híbridos voltara ao normal. A cadeira vazia de Night Eyes deixava vivida a ideia da sua morte, mas tal coisa era afastada ao referir-se o assunto daquela reunião.
  - Vocês vão ter uma missão. - Esclarece Deak.
  - Todos? - Pergunta Duf.
  - Juntos? - Sublinha Tenshi.
  - Sim. Todos juntos. É uma missão secreta, de nível C* e perigosa. - Afirma Deak.
  - Então porque não esperamos pela Sakuya-sama? - Sugere Yuyuko.
  - Porque essa é a razão de a missão ser secreta.
  Os Híbridos entreolham-se.
  - Mestre, está a dizer que a missão é em segredo da Night Eyes? - Expõe Shi a dúvida de todos.
  Deak solta um longo  suspiro e tira um cigarro do bolso acendendo-o preguiçosamente.
  - Infelizmente. São ordens do Pai.
  Ramon dá uma gargalhada sarcástica:
  - Então a nossa missão é em segredo da princezinha de Lúcifer e a mando dele? Interessante.
  Tenshi levanta-se pronta a defrontar Ramon e fazê-lo calar a boca. Yuyuko pensava para si mesma se aquela situação era correta.
  - Tenshi por favor recompõe-te. - Pede Deak.
  - Mas Mestre...
  - Sem "mas". - Interrompe ele.
  O silêncio volta a pairar naquela sala. O som da porta a abrir faz com que todos voltem a sua atenção para lá. Lola caminha graciosamente até à mesa.
  - Lola? - Inquire Deak.
  Ela estica um papel na direção de dele.
  Pelo que se sabia nunca ninguém a ouvira falar. Havia quem dissesse que Lúcifer lhe tinha tirado a voz por ela ser a sua empregada mais próxima e não querer que ela revelasse os seus segredos.
  - Obrigado. - Agradece Deak enquanto Lola dá costas e sai da sala.
  Ele desdobra o papel. O ar carregado que assume depois de ler aumenta a impaciência do resto dos presentes.
  - Meninos, a vossa missão é capturarem, vivo, o Clark Werewolf.
  Nos rostos dos Híbridos vê-se um misto de medo, espanto e acima de tudo vontade de recusar.
  - Eu sei, também não concordo com isto. - Deak estava sério.
  - Mestre, isto pode desencadear uma guerra. - Diz Yuyuko com a voz abafada.
  Deak consente.
  - Então o que fazemos? - Pergunta Duf nervoso.
  - Eu lamento. Não passa de um capricho do Pai. - Desculpa-se Deak.
  - Mestre, sejamos realistas. Lúcifer não tem assim tão poucos inimigos. Se houver uma guerra será catastrófico. - Expõe Ramon a ideia.
  Apesar de tudo Ramon tinha razão. Ao longo dos séculos Lúcifer tinha feito questão de "colecionar" um número significativo de inimigos que se fossem chamados a combater não recusariam.
  Será que no final, todos os esforços para manter a paz foram em vão?

*Missão de nível C - Missão de captura.

24 - O treino começa

  Debaixo da clareira de Mona Snake havia uma arena de treino.
  Warui, Satsujin-han e Ken tinham ficado no exterior tal como Mona ordenara. As irmãs Black Heart estavam de olho nele, desconfiadas e sempre à espreita.
  - Foi um erro termos concordado com isto. - Afirma Satsujin-han sem demonstrar qualquer emoção.
  - Porque dizes isso? A Mona não lhe vai fazer nada. - A voz de Warui estava carregada de confiança.
  - Como é que podes ter tanta certeza?
  - Porque sei como ela é.
  Na arena Mona atacava Night Eyes constantemente. Sempre que se feria Mona curava-a para voltar a atacar.
  O exercício consistia em Night Eyes transformar-se em lobo e aparar os golpes, mas ela ou se transformava muito cedo ou muito tarde e acabava sempre sendo projetada para o chão ou contra as paredes.
  - Mona-sama, podemos parar um segundo? - Pede Night Eyes enquanto se levantava do chão depois de ter sido projetada mais uma vez.
  - Parar? Ainda agora começamos.
  - Por favor...
  Mona observa Night Eyes. Estava toda esfarrapada, a transpirar e suja, basicamente parecia um mendigo, sem contar com o sangue.
  - Bom, - Mona lança um suspiro. - parece que isto está a ser muito complicado para ti. Vamos fazer uma pausa.
  Night Eyes sorri aliviada e senta-se no chão. Fecha os olhos e respira fundo para relaxar. Quando volta a abri-los vê Mona a desenhar na terra com a ponta da cauda.
  - O que é que está a fazer?
  - A invocar o teu adversário.
  - Mas não íamos fazer uma pausa?
  - Sim. Neste treino. Agora vais lutar corpo-a-corpo.
  - O quê?!
  Uma luz começa a sair do chão e aparece uma mulher. Pelas roupas Night Eyes percebeu ser uma Ninfa.
  "Como é que uma Ninfa está às ordens de um Bruxa?", pensa ela.
  - Mona-sama. - A Ninfa curva-se numa vénia respeitosa.
  - Hera. Invoquei-te para me ajudares a treinar aquela rapariga.
  Hera encara Night Eyes. O seu olhar quase trespassa a Mestiça.
  - Sakuya Night Eyes.
  Ao ver o olhar confuso da rapariga, Mona explica:
  - A Hera tem o poder de conseguir ver as origens das pessoas. Resumindo, para ela é como se tivesses uma árvore genealógica colada na testa.
  - Compreendo.
  - Deixe-mo-nos de conversa. Ao trabalho!

(Nota: Esqueci-me de avisar que algumas personagens correspondem a pessoas a quem eu atribui. Irei colocar nas imagens. Imagem de Hera **)

25 - O poder de uma Ninfa

  - Pensei que as Ninfas tratassem das florestas. - Night Eyes estava nervosa. Nunca tinha lutado contra uma Ninfa.
  - Eu sou uma Ninfa Guerreira. Treinada para lutar.
  Mona estava sentada num cadeirão a tentar perceber o que aconteceria. Hera além de Ninfa Guerreira também podia fazer magia. Essa fora uma das razões porque Mona fizera tanta questão de a ter.
  - Aqui vão as regras. Vocês vão lutar corpo a corpo, logo qualquer tipo de armas é proibido. Podem usar magia mas quero que se concentrem na luta, magia só em casos restritos. Entendido?
  As lutadoras acenam afirmativamente.
  - Muito bem. Quando quiserem podem começar.
  Elas começam a luta.
  A certo momento, depois de Hera concretizar um golpe final, Night Eyes começa a sentir-se estranha e uma aura esquisita cobre o seu corpo.
  Os seus olhos assumem uma cor vermelho vivo e ela parte para cima de Hera, que é apanhada de surpresa.
  Após mais alguns golpes trocados, Night Eyes fixa-se em Mona e vai até ela para a atacar.
  - Odeio desobediência. - Murmura Mona lançando uma bola de energia contra Night Eyes.
  Ao ser atingida a rapariga cai ao chão a contorcer-se de dor.
  Hera aproxima-se de Night Eyes. A Mestiça sangrava seriamente da cicatriz do pescoço.
  - Mona-sama... - Hera chama em pedido de clemência.
  - Ela ainda não consegue controlar o Lobisomem dentro dela. Estanca-lhe a hemorragia se quiseres. Preciso de falar com uma pessoa. - E com isto Mona retira-se.
  Hera ajoelha-se ao pé de Night Eyes.
  Trinca um dedo e verte uma gota do seu sangue para o chão. Uma planta cresce e Hera colhe a sua flor que está cheia de um liquido, o qual faz Night Eyes beber.
  As feridas de todo o corpo de Night Eyes saram e Hera coloca uma ligadura feita com as folhas da planta na cicatriz.
  Night Eyes acorda.
  - Como é que...
  - Sou uma Ninfa. - Sorri Hera.

(Nota: Eu não sei escrever partes de luta, por isso achei que se encontrasse um video que descrevesse o que eu queria vocês iam perceber melhor, afinal estavam mesmo a ver o que acontecia. Espero que tenham gostado ^^).

26 - O Mais antigo

  Warui encontrava-se sentada no sofá de Mona Snake. Sabia ser uma falta de respeito mas sentara-se lá por duas razões: primeiro estava cansada e segundo, adorava provocar as Black Heart.
  Mona entra. Divide olhares entre Warui, que lhe sorri por debaixo da máscara, e Ken e Satsujin-han encostados num canto.
  - A Night Eyes-sama? - Pergunta Satsujin-han desconfiada.
  - Está a descansar. E a meditar nos seus erros.
  A resposta de Mona não soou agradável a ninguém, o que fez crescer a preocupação dos presentes. Menos das Black Heart, claro.
  A bruxa dirige-se a uma estante por trás do sofá. Era lá que ela tinha os seus livros de magia.
  - Precisas de mim? - Warui estava toda confiante e sorridente.
  Mona olha-a. Aquela atitude trazia problemas.
  - Sai do meu sofá, depois disso talvez possa precisar da tua ajuda.
  Warui sai do sofá num salto.
  - O que procuras?
  - Tenho de invocar uma pessoa.
  - Oh. Interessante. - Warui puxa um livro de capa verde para fora da estante. - Este serve?
  - Não.
  - Nem olhaste para ele.
  - Não é preciso. O único livro que preciso já não está na minha posse. - Mona encara Warui.
  - Estou a ver. Queres invocar um dos Mais Antigos.
  - É para ajudar a tua princesa. Como vai ser?
  - Ainda tens aquela sala fedorenta a que chamas laboratório?
  Mona lança um olhar de desagrado a Warui e afasta-se entrando numa porta escondida por um cortinado.
  A porta ia dar a uma sala com bancadas, caldeirões e utensílios diversos.
  - Devias pensar em renovar isto. - Opina Warui.
  - Quem és tu para me dizeres isso? Vives numa cabana toda podre.
  Warui finge não ouvir e começa a juntar ingredientes para dentro de uma taça de bronze.
  - O que estás a fazer? - Pergunta Mona enquanto se senta.
  - O teu feitiço de invocação.
  - E o livro?
  Warui pára de realizar a sua tarefa.
  - Achas mesmo que eu ia dar-te o livro numa bandeja de prata? Eu sou mais esperta que isso. Decorei quase todos os feitiços do livro, não preciso dele.
  - Sua...
  - Não me ofendas. - Interrompe Warui. - Estou a fazer-te um favor.
  Mona já previa que algo do género acontecesse. O facto de Warui parecer tão alegre e confiante e aceitar sem reclamar ajudá-la, ou melhor, oferecer-se para ajudar era tão invulgar que só podia ser algo planeado.
  - Tens uma pena de Fénix? - Pergunta Warui quebrando a linha de pensamento de Mona.
  - Na gaveta da direita no frasco azul.
  - Só ficas com uma. - Avisa Warui colocando uma pena vermelha na taça. - Está pronto. Agora é só invocá-lo.
  - Porque não o fazes tu?
  - Porque odeio o Furui.
  Mona olha-a de relance e aproxima-se da taça:
  - Furui Lupinotuum, te invoco hic et nunc pro per adiunctis haec potestates poteris videre.*
  Os objetos dentro da taça começam a arder e do fumo sai a imagem de uma criança.
  O menino parecia ter uns cinco anos e segurava na mão um lobo de peluche.
  - Ridículo. - Comenta Warui para si.
  Mona, ainda incrédula com o que via, faz uma vénia.
  - Bruxas? O que querem? - O menino carregava uma expressão séria.
  - Senhor, o meu nome é Mona Snake...
  - Eu sei quem és, diz o que queres. - Interrompe o menino a ficar aborrecido.
  - Bom, eu preciso da sua ajuda.
  - Da minha ajuda?
  - Sim senhor.
  - E para que seria?
  - Tem a ver com a Sakuya Night Eyes...
  - Não estou interessado.
  Mona tenta rebater o assunto mas Warui impede-a.
  - Furui, como podes calcular é um desprazer rever-te. - Warui começa ainda sentada na mesa por trás de Mona.
  - Bruxa mascarada... Partilho do mesmo sentimento quanto a ti.
  - Óptimo. Então não precisamos de perder tempo com formalidades. Antes de mais estás ridículo com esse corpo, afinal toda a gente sabe que és uma carcaça velha. E tu vais ajudar-nos.
  - Ai vou?
  - Vais, porque se metesses mão nos da tua espécie o Velho** não tinha morrido e neste momento a Sakuya-hime não seria Mestiça. Logo vais ajudá-la a controlar o seu poder de Lobisomem para podermos resolver as coisas que tu não impedis-te.
  Nos olhos do menino crescia uma total raiva.
  - Como te atreves? Sabes quem eu sou?!
  - Por saber exatamente quem és é que te pedimos ajuda, oh Mais Antigo.
  O provérbio "as aparências iludem" é o mais correto a usar nesta situação pois aquele menino de cinco anos é, nada mais nada menos do que, Furui, o Mais Antigo Lobisomem.

Nota: O Mais Antigo é o ser mais velho da sua espécie.
*Furui o Lobisomem, invoco-te aqui e agora para que pela junção destes poderes te possa ver.
**Warui referia-se ao Rei dos Lobisomens que foi morto por Clark.
(Imagem de Furui na página que vocês sabem ^^)

27 - Um aliado improvável

  Os Híbridos tinham se posto a caminho da sua missão. Era a primeira vez que tinham uma missão em que estavam todos juntos, só faltava Night Eyes.
  Antes de saírem Deak tinha dado um pequeno frasco a cada um. O frasco continha um liquido que servia de alimento, uma pequena gota e ficavam saciados. Decidira também mandar com eles Pink, uma das suas guardas pessoais.
  O caminho não era o melhor e a meteorologia também não estava a ajudar.
  No mapa que Shijima lhes dera Clark tinha um esconderijo nos Himalaias.
  Tinham acabado de chegar ao sopé de uma das montanhas dos Himalaias e já fazia um frio de gelar os ossos.
  - Porque é que os cães gostam tanto de neve? - Pergunta Ramon ajeitando a capa.
  - Lobos. - Sussurra Yuyuko.
  - O quê?
  - São lobos não cães.
  Pink observava o mapa e a montanha à sua frente.
  - Se dermos a volta por ali podemos subir abrigados do frio durante algum tempo. Há uma floresta até um terço da montanha.
  - Ótimo. É que até já tenho as entranhas congeladas. - Diz Duf chegando-se a Tenshi.
  - É normal. Os únicos que não têm frio é a Yuyuko porque é um fantasma e o Shi que é um Yatagarasu*. - Observa Tenshi a bater os dentes.
  - Deixem-se de coisas. Temos de arranjar um sitio para passar a noite. - Diz Pink a olhar em redor.
  - Pink-san, aquilo ali é fumo? - Tenshi aponta para o meio da floresta.
  - Deve ser uma cabana de lenhadores ou caçadores furtivos. - Diz Duf.
  - God Magic-shi** podes mandar algo para averiguar a zona? - Pede Pink.
  Na mão de Ramon aparece uma borboleta que sai voando pelo meio da floresta de árvores e flocos de neve.
  Minutos depois a borboleta regressa à mão do seu criador.
  - Está vazia.
  - Vamos até lá! - Duf começa a avançar.
  - Calma. - Tenshi agarra Duf. - Pink-san, devemos ir?
  - Damos uma vista de olhos...
  Discutido o assunto eles avançam até à pequena e isolada cabana de montanha.
  Parados na porta perguntam-se se devem bater ou simplesmente entrar. É Yuyuko quem toma iniciativa e, assumindo a sua forma fantasma, passa pela porta empunhando as suas elbow blades.
  Uma fogueira crepitava com uma chaleira ao lume e uma pequena mesa ostentava oito chávenas de chá à espera de serem usadas.
  Yuyuko abre a porta para os restantes.
  - Ramon, por acaso quando viste a casa havia uma mesa com chávenas? - Pergunta.
  - Não. Nem havia mesa.
  - Alguém sabe que estamos aqui. - Diz Shi depois de entrar na cabana. Era a primeira vez que falava desde que a jornada começara.
  O grupo entreolha-se e depois dirige os olhares a Ramon.
  - O que foi? Não estava cá ninguém. - Defende-se.
  Todos de armas na mão entram na cabana averiguando tudo o que parecia suspeito.
  Uma brisa percorre a cabana e a porta fecha-se.
  Por momentos os encurralados pensaram ser uma armadilha de Clark até que, dum pequeno remoinho de vento aparece uma rapariga. O seu cabelo branco brilhava como a neve do cimo da montanha.
  - Calma Híbridos. Não vos quero mal. - A voz da rapariga era doce e parecia flutuar com o vento.
  - Quem és tu? - Pergunta Yuyuko desconfiada.
  - O meu nome é Taiki e estou aqui para vos ajudar.
  - Ajudar-nos? - Tenshi baixa a sua foice.
  - O que ganhas em ajudar-nos? - Ramon apontava a sua flecha à cabeça de Taiki.
  - Vocês procuram o Rei dos Lobisomens não é? O Clark Werewolf.
  - Como sabes? - Duf não sabia que partido tomar.
  - Não é difícil. Eu sei muita coisa, ouço muita coisa. Mas sentem-se. Vamos tomar um chá.
  Relutantes eles sentam-se.
  - O que queres de nós? - Shi fora o único a não guardar a sua arma. Mantinha-a a seu lado na mesa.
  - Não sou aliada de Lúcifer mas abrirei uma exceção. Eu costumo dizer que os inimigos dos meus inimigos são meus aliados e para encontrarem o Clark vão precisar de mim.

*Corvo do Inferno. Guardião das chamas do Inferno.
**Sufixo entre -san e -sama. Significa respeito.
(Imagens das personagens novas no outro lado ^^)

28 - Uma aula sobre Natureza

  A chaleira estava quase vazia e as perguntas a vaguear pelo ar sem resposta.
  O grupo pendia entre a dúvida e a desconfiança e aquela rapariga de cabelos cor de neve sorria depois da pesada afirmação exposta por ela, "para encontrar o Clark vão precisar de mim".
  - Eu compreendo a vossa desconfiança.
  - Então admites ser uma pessoa suspeita. - Afirma Tenshi.
  - Para vocês que não me conhecem, sim. No vosso lugar eu também estaria recetiva. Quem é que vos garante que não sou aliada do Clark?
  - Então entendes o porquê de estarmos desconfiados. - Pink toma o lugar de porta-voz do grupo.
  - Como é óbvio. Por isso é que propus uma conversa amigável.
  - Não me parece que atrair-nos aqui seja amigável. - Adianta-se Ramon sarcástico.
  - Não vos obriguei, vieram porque quiseram.
  - Só queremos saber quem és ao certo. - Fala Duf.
  - O meu nome é Taiki e...
  - O que és? - Interrompe Yuyuko enquanto bebia um gole do seu chá. A sua expressão calma e séria.
  Taiki sorri. Na verdade não se importava nem um pouco com os conflitos entre seres violentos como eram os Demónios e afins. Esperava um dia encontrar um lugar pacifico para morar, longe de toda aquela selva que era o submundo.
  - Pergunta pertinente. Acho que devo dar-vos uma aula sobre Natureza. Sem ofensa, mas os Demónios são muito incultos.
  - A quem é que estás a chamar inculto? Eu sou como um Deus! Um dia serei o Híbrido mais poderoso de toda a existência! - Vagueia Ramon.
  - Calma Bruxo. Eu sou uma Elemental.
  O grupo entreolha-se confuso.
  "Incultos...", pensa Taiki para si.
  - As divindades da Natureza, certo? - Arrisca Shi.
  - Exato. - Taiki sorri espantada. - Somos conhecidos por muitos nomes e cada elemento tem os seus guardiões. Eu sou uma Sílfide, uma Elemental do ar.
  Taiki levanta-se e vai até uma gaveta de onde tira um tapete com gravuras. Com um movimento de mãos as chávenas são afastadas da mesa por força do vento. Com a mesa vazia ela estende o tapete.
  - Existem quatro tipos de Elementais, os do ar, os da água, os da terra e os do fogo. Dentro dos do ar são conhecidos os Silfos, como eu, e as fadas. Na terra existem os mais conhecidos, os Gnomos, e depois as Dríades* e os Duendes. No fofo há as Salamandras. Na água são conhecidos, em especial, as Ondinas, há depois as Nereides, as Ninfas de água doce e as Sereias. Os Elfos são também Elementais, mas pertencem tanto à terra como à água.
  O grupo ouvia atento enquanto observava as gravuras que fundamentavam a explicação de Taiki.
  - Os Elementais são responsáveis pelo equilíbrio da Natureza. O Clark Werewolf está a meter em risco esse equilíbrio, essa é a razão de eu me propor a ajudar-vos.
  - Vocês, os Silfos, têm um Rei**, não têm? - Pergunta Shi olhando atentamente a gravura.
  - Sim.
  - O que ele diz sobre isto?
  - São as suas ordens.
  - Aceitamos a tua oferta.
  O espanto era notável tanto em Taiki como no resto do grupo. Nessa noite formou-se uma nova aliança.

*Dríades: Elementais da terra encarregues das árvores.
**Paralda, Rei dos Silfos. Vive na mais alta montanha do mundo.

29 - O Passado visita o Presente

  Em toda a sua vida nunca imaginara que um dia iria caminhar pelo Inferno. Na verdade nunca pensara sequer que seria expulso do seu lar por uma coisa que não fizera.
  Temos de admitir que o Fado* não foi simpático.
  Kira passeava-se sem rumo pelos mares de lava dos sítios mais obscuros do Inferno. Acabara de sair de uma "reunião" com Lúcifer e a tal Nekomata que comandava os cães do Inferno.
  Lúcifer dissera-lhe que autorizava a sua estadia nos seus domínios apenas por Night Eyes. Na verdade isso não afetava em nada Kira. Ele não fazia conta de ficar por ali durante muito tempo. Desde que Night Eyes entrara na clareira de Mona Snake ele deixara de a sentir. No fundo estava preocupado mas não queria admitir.
  Por cima da sua cabeça ouve uma pomba a arrulhar.
  - Uma pomba branca no Inferno?! - Pergunta a si mesmo.
  A pomba levanta voo e começa a cercá-lo para incentivá-lo a segui-la.
  Curioso, Kira faz a vontade à pomba e vai atrás dela.
  No exterior a pomba voa até ao ramo de um castanheiro situado numa terra em pousio.
  Debaixo do castanheiro encontrava-se um homem com um smoking branco que sorria para a pomba.
  - Olá Izakiel.
  Kira fica em estado de choque.
  - Sei que é uma visita inesperada depois de tanto tempo mas o Kamiel falou-me da tua atual situação e não resisti em vir.
  - Gabriel-sama...
  - Não precisas de dizer nada. Sabes que eu sempre acreditei na tua inocência não sabes?
  Kira acena afirmativamente com as lágrimas a começarem a cair.
  - Quero que perdoes os meus irmãos. Mas diz-me, ainda hoje me pergunto, que ser perseguias naquele dia?
  - Eu não tenho a certeza. - Kira limpa as lágrimas. - No inicio parecia-me uma bola de luz flutuante mas quando entrou no Portal Celestial eu lembro-me de ouvir uma pequena gargalhada.
  Gabriel medita por segundos.
  - Havemos de provar a tua inocência. - Sorri caloroso.
  Kira retribui o sorriso.
  - Bom, é melhor eu ir. Ninguém sabe que vim.
  - Senhor...
  - Sim?
  - Eu queria perguntar quem é que mandou soltar o Clark Werewolf.
  Gabriel suspira.
  - Tinha medo que perguntasses isso... Na verdade há um traidor no Céu, foi ele que soltou o Clark.
  - Traidor?!
  - Não podes contar a ninguém, nem à pequena Sakuya. Nós ainda não sabemos quem ele é. Mas é um assunto sério.
  - E Lúcifer?
  - Não lhe digas nada ainda.
  - Está bem. Ajudarei no que puder.
  - Como é que ele está?
  - Acho que Lúcifer é Lúcifer, não é?
  - Tens razão. Está na hora. Adeus Izakiel.
  Gabriel sorri e desaparece num portal deixando Kira sozinho debaixo daquele gigante castanheiro.

*Fado: Destino

30 - Mestiça vs Mais Antigo

  Hera e Night Eyes continuaram a lutar depois do curativo feito. Apesar dos esforços de ambas, Night Eyes evitava a todo o custo usar o modo Lobisomem com medo de perder o controlo como tinha acontecido da última vez.
  Na sala reinava o desconforto. Há mais de uma hora que Mona e Warui tinham ido para o laboratório.
  Opção 1: Mataram-se uma à outra;
  Opção 2: O feitiço correu mal;
  Opção 3: O que é que aconteceu?!
  A barreira do território de Mona oscila. Quando as Black Heart se preparavam para ir ver o que tinha acontecido, quem invadira o seu território, Mona e Warui aparecem à porta.
  - Pelo menos é pontual. - Resmunga Warui sob o olhar reprovador de Mona.
  Sem perceber o que se passava os presentes fazem um ar confuso.
  - Não precisam de se preocupar, ele não nos vem ameaçar. - Explica Mona.
  - Pelo menos por enquanto. - Ironiza Warui.
  - Mona-sama quem é ele? Tem uma aura tão forte. - Pergunta Kuroi.
  - Não podia dizer melhor nee-san. Que assustador! - Arrepia-se Yami.
  - Mais Antigo. - Sussurra Ken olhando pela janela e vendo Furui aproximar-se.
  As Black Heart acercam-se da janela e Satsujin-han segura a sua metralhadora com mais força.
  Warui faz sinal a Ken e Satsujin-han para a seguirem. Mona Snake e as Black Heart imitam-nos.
  - Bruxa Mascarada. - Furui olha com escárnio para Warui.
  - Deixa-te de cenas, não é por mim que estás aqui.
  - Juro-te que terei a minha vingança.
  - Tens de admitir que nessa figura não metes medo a ninguém.
  Uma chama nasce no olhar do menino e um sorriso vencedor insinua-se por baixo da máscara da bruxa.
  - Vejo que estás bem acompanhada. - O olhar de Furui varia entre Ken e Satsujin-han.
  - Podemos dizer que sim.
  Os dois demónios fazem uma vénia ligeira.
  - Eu não queria interromper mas se não se importasse... - Fala Mona relutante. Era a primeira vez que a Bruxa Mestiça estava tão aterrorizada.
  - Vamos.
  Mona vai para o campo e aproxima-se de Night Eyes.
  - Sakuya Night Eyes está aqui alguém para te ajudar.
  - Ajudar?
  - Sim, ele vai ensinar-te a domar o Lobisomem dentro de ti.
  Furui aparece por detrás de Mona.
  - Uma criança?
  - Agradeço o elogio mas está enganada. O meu nome é Furui, o Mais Antigo Lobisomem.
  Night Eyes fica apática. Aquela criança era o Mais Antigo?
  - Compreendo a tua surpresa. Mas posso provar.
  O lobo de peluche que Furui trazia desaparece e o corpo de menino cresce e cresce até atingir a forma de um lobo de dois metros.
  A altura máxima que um Lobisomem atinge é o metro e setenta. Um lobo de dois metros só prova o seu poder. A seu lado Night Eyes era minúscula, atingia apenas o metro e meio.
  - Transforma-te Mestiça. Vamos lutar!

31 - A luta

  Uma arena nasce no centro do campo e isola Night Eyes e Furui.
  - Então desistis-te?
  - Com todo o respeito, eu não tenho a certeza sobre isso.
  - Desistes.
  - Não é isso...
  - Então transforma-te! - O rugido de Furui ecoa por toda a clareira fazendo arrepiar todos os seres nas regiões próximas.
  Sem querer enervar mais o Mais Antigo, Night Eyes transforma-se.
  Tinha medo. Aquele magnifico lobo castanho-dourado à sua frente parecia ser implacável. Uma dentada no pescoço e estava morta. A única vantagem que tinha sobre ele era as asas.
  Furui ataca.
  Do lado de fora o intenso barulho incomodava a maioria.
  Os nervos consumiam Mona Snake. Os suores frios começavam a causar-lhe tremores.
  - Calma. - Warui coloca a mão no ombro da Bruxa Mestiça. - Ele não vai fazer-lhe mal.
  - Como é que sabes?
  - Conheço-o demasiado bem.
  Mona encara Warui. O seu olhar estava distante.
  - De onde conheces o Mais Antigo?
  - Acidentes de percurso.
  Um estrondo e uma nuvem de pó interrompem a conversa das bruxas.
  Night Eyes encontrava-se caída uns metros afastada do corpulento Lobisomem. Escorria sangue de uma pata e do focinho. Furui tinha apenas um pequeno corte numa orelha.
  A aura vermelha começa a cobrir o corpo de Night Eyes.
  - Finalmente. - Sorri Furui.
  Involuntariamente, Night Eyes começa a mover-se em direção a Furui. De asas abertas e com um rugido decidido ela salta sobre o rival.
  Sem sequer se mover ou intimidar, o Mais Antigo volta à forma humana, desta vez com um corpo de 25 anos, e ergue a mão. Night Eyes não consegue parar e assim que a mão de Furui lhe toca na testa ela cai novamente humana.
  Night Eyes abre os olhos respirando forçadamente.
  - O que me fez?!
  - O que me pediram. Domei o teu Lobisomem.
  - Como?
  - Matando-o.
  - O quê? Porquê?
  - Nunca conseguirias controlá-lo. Não está no teu sangue. Eu limitei-me a matá-lo e transferir a sua força para o teu corpo.
  - E a transformação?
  - Não precisas.
  - Então...?
  - Tenta. Vamos lutar corpo a corpo. Pronta? - Night Eyes levanta-se do chão e acena afirmativamente. - Vem!

  A arena desaparece e ambos os lutadores saem.
  Depois da derrota saborosa de Furui, Night Eyes sentia-se como nova.
  De mãos dadas com o menino de seis anos, outra vez, Night Eyes vai até à casa da árvore.
  O espanto de todos faz-se notar. Não só por estarem os dois vivos mas por estarem num estado lastimoso.
  - Quantos dias passaram desde que aqui cheguei? - Pergunta Night Eyes de sobrolho erguido.
  - Quinze dias. - Responde Satsujin-han.
  - Está na hora de ires. Estás pronta. - Diz Furui.
  - Ken, Satsujin-han, Warui, vamos voltar. - Night Eyes vira-se para Mona. - Mona-sama, agradeço tudo o que fez por mim.
  - Manteres o teu querido Padrinho longe de mim e das minhas terras chega como pagamento.
  - Farei os possiveis.
  Com uma vénia eles fazem-se a caminho.
  - Eu acompanho-vos até à entrada do Submundo. - Diz Furui saindo detrás de uma árvore.
  - Claro. Com prazer. - Sorri Night Eyes.
  Próxima paragem: Hell Bar.

Nota: Mais uma vez tenho um video para ilustrar a luta. Peço desculpa para quem não gostar mas é a minha falta de talento para escrever este tipo de cenas. Espero que gostem.
Imagem de Furui com 25 anos na página das imagens ^^

32 - Escalar montanhas

  Era o nascer do sol.
  Depois de muitas explicações e discussão, Taiki conseguira convencer os Híbridos a passar a noite na cabana e começarem a jornada à luz dos primeiros raios de sol da manhã.
  - Taiki-san, porque é que insistis-te tanto para só virmos hoje? - Pergunta Tenshi.
  - Porque é à noite que o Clark sai.
  - Na minha perspetiva eu não sei se é correto capturá-lo. - Diz Ramon nervoso.
  - Estás com medo Bruxo? - Taiki encara-o com ironia no olhar.
  - Claro que não. Mas e se ele souber que estamos aqui?
  - Isso seria um problema. - Afirma Pink.
  - Quando soube que viriam pensei que trouxessem um dos vossos trunfos. - Taiki pára para descansar.
  - Trunfos? - Interroga Duf confuso.
  - Sim. O Anjo Caído ou a Mestiça.
  - As noticias correm depressa. - Comenta Shi.
  - Como o vento. - Sorri Taiki.
  Num canto Ramon resmungava:
  - Sempre ela, sempre ela.
  - O Pai não quis envolver a Night Eyes-sama e como o Anjo Caído está sob as ordens dela... - Explica Pink.
  - Compreendo. Mas seria uma mais valia para nós.
  Ao longe avista-se um vulto numa pequena colina.
  Yuyuko, que afiava as suas elbow blades afastada dos outros, fora a única que reparara. Ao inicio pensara tratar-se de um inimigo mas ao olhar com mais atenção reconheceu o vulto como sendo o homem mistério que aparecera no funeral de Night Eyes.
  Queria avisar os outros mas ao mesmo tempo algo a impedia de o fazer.
  O homem parecia sorrir enquanto a observava.
  Viu-o tirar um papel de dentro da capa e deitá-lo no chão.
  Dá-se uma explosão e uma avalanche cobre o homem.
  O pânico instala-se e eles abrigam-se numa gruta próxima.
  Enquanto Shi derrete a neve que tapava a entrada, Yuyuko trespassa-a e corre até ao local onde há segundos atrás se encontrava aquele homem.
  Como um são bernardo à procura de pessoas na neve, a Híbrida  escava com todas as forças. Desenterrado o papel, que estranhamente se encontrava seco, ela desdobra-o. Tinha um doce cheiro a rosas e a letra era de todo normal, impossível de identificar.

  Não continuem. Ele sabe que estão aqui. Avançarem será o vosso fim. A vossa Princesa está a regressar, só ela o vencerá.
Ass: Niwashi*
  Na gruta reinava a desconfiança.
  - Ouviram a explosão? - Pergunta Tenshi assustada.
  - Deve ter caído algum pedregulho, é normal por aqui. - Diz Taiki pouco convicta.
  Com a entrada desimpedida eles voltam ao caminho onde se encontram com Yuyuko.
  - Onde foste Princess Ghost-shi? - Questiona Pink sem rodeios.
  - Não podemos continuar. - Afirma Yuyuko.
  - Porquê? - Taiki lança um olhar suspeito.
  - O Werewolf sabe que estamos aqui.
  - E como é que tu sabes isso? - Ramon faz um ar desafiador.
  Antes que a Híbrida Fantasma pudesse responder três Lobisomens aparecem do nada.
  - Aquilo parece-me prova suficiente. - Aponta Duf invocando o seu ring blade.
  - Como é que...? - Taiki estava incrédula.
  - Isso agora não interessa. Temos que nos livrar deles e fugir. - Pink agarra na sua arma e prepara-se.
  - É por isto que odeio montanhas. - Reclama Tenshi materializando a sua foice.
  - Vamos Híbridos, está na hora da luta na neve! - Sorri Shi apontando as pistolas aos seus inimigos.
  Ramon dispara o seu arco iniciando a batalha.
  - Cães. Detesto-os!

*Jardineiro
Nota: Para verem a arma da Pink confiram na imagem dela.

33 - Discussão de família

  A sua casa estava cada vez mais perto. Estava desejosa de ver a mãe, o Mestre e, claro, o Padrinho. E apesar de nem todos gostarem dela, também tinha saudades dos colegas Híbridos.
  Desde que iniciaram a viajem de regresso que havia uma notável tensão entre Warui e Furui. Apesar da curiosidade, Night Eyes não tinha coragem de perguntar qual a relação deles.
  A chegar ao destino, aquele grupo de jornada separa-se. Furui e Warui seguem juntos e Night Eyes, Satsujin-han e Ken vão para o Hell Bar.
  Lúcifer fora informado à cerca de uma hora que a Afilhada vinha a caminho. Deak ficara logo em sobressalto.
  - Senhor, ela veio demasiado cedo. - Alerta Deak.
  - Hum... Porquê?
  - Os Híbridos ainda não regressaram.
  - Oh! Isso é um problema.
  - Senhor?
  - Deak, preocupaste demais meu caro.
  A porta abre-se e Mia entra aos pulos.
  - Lulu!
  - Tens novidades?
  - A Sasa está quase a chegar!
  - Linda menina. - Lúcifer afaga o cabelo de Mia fazendo-a ronronar.
  Alguns minutos depois a porta volta a abrir-se e Night Eyes entra.
  - Afilhada! - Lúcifer abre os braços para receber a Mestiça.
  Tal não é o espanto quando o sorriso de Night Eyes se transforma em raiva e a sua mão acerta na cara do Padrinho na forma de um estalo.
  - Como é que foi capaz? - A rapariga estava furiosa.
  - Sakuya acalma-te. - Deak agarrava-a na esperança de impedir uma desgraça.
  - Largue-me Mestre! Você também concordou com isto!
  - Do que estás a falar?
  - De mandá-los para capturar o Clark.
  - Como é que soubeste disso? - Lúcifer perdera a boa disposição.
  - Isso não interessa. Porquê? Porque é que os mandou para lá»
  Lúcifer não responde e começa a afastar-se.
  - Padrinho!
  Ele continua a ignorar.
  - Lúcifer! - A aura de Night Eyes começa a formar-se. Era a primeira vez que se ouvia a rapariga a chamar o Padrinho pelo nome.
  Os olhos dele faiscavam. Por muito que gostasse dela não admitia tal falta de respeito.
  - Sakuya, para teu bem não voltes a falar-me assim.
  - Senhor não faça nada. - Deak meteu-se entre os dois.
  - Está a ameaçar-me? - Insiste Night Eyes.
  - É necessário fazê-lo?
  Os cliente do Hell Bar começam a sair um a uma. Aquela discussão não trazia nada de bom para quem ficasse a assistir.
  Shijima fora chamada e temia agora pela integridade do bar.
  Ken e Satsujin-han esperavam a um canto o momento para agir.
  - Eu não quero magoá-lo Padrinho. - Night Eyes assumia uma posição defensiva.
  Lúcifer dá uma gargalhada.
  - Quem é que julgas que eu sou garota?
  Sem aviso prévio Lúcifer lança uma bola de energia à Afilhada que retribui da mesma maneira. Era inevitável. Aquelas duas bolas chocariam e provocariam uma explosão de nível de destruição massivo.
  No momento que parecia ser o final, um portal abre-se e Cerberus sai lá de dentro engolindo as bolas.
  Um fumo negro é expulsado pelas narinas das duas cabeças que engoliram aquela fonte de poder e destruição.
  Tsubaki aparece entre as pernas do grande cão do Inferno.
  O alivio era notável em todas as faces dos Demónios presentes.
  Tsubaki olha na direção da filha e do amo.
  - Se querem matar-se um ao outro façam-no num local aberto e depois de terminar esta crise.

34 - Regresso

  Depois do incidente nas montanhas e de se terem livrado dos Lobisomens, Pink achara melhor que regressassem.
  A pergunta que flutuava na mente de todos era como é que Clark descobrira tudo. Ramon chegara a meter a hipótese de Taiki estar mesmo com ele e aquilo tudo ser uma armadilha. Mas a verdade é que Taiki ficara tão surpreendida quanto eles com aquele ataque surpresa.
  Dois dias de viagem era o que os aguardava.
  A Elemental decidira não ir com eles, afinal ela pertencia a um grupo neutro que não tinha autorização para entrar no Inferno.
  Fazia um dia que Night Eyes chegara e um terço desse tempo que não falava com Lúcifer.
  Deak dissera-lhe que os Híbridos chegariam nessa tarde e que preferia que ela não estivesse presente para os receber para evitar confrontos com o Padrinho. Apesar de contrariada aceitou. O que menos queria era uma guerra aberta com Lúcifer.
***
  - Bem vindos de volta. - Deak esperava-os à porta.
  Eles fazem-lhe uma vénia.
  Lúcifer pede que o acompanhem até à sala de reuniões.
  - Espero que tenham uma boa desculpa para terem falhado a missão que vos dei.
  Pelo tom de voz percebia-se o humor intragável do Senhor.
  O mesmo Demónio que contara a Night Eyes da missão contara aos Híbridos a discussão que quase acabara em tragédia.
  - Senhor, o Clark Werewolf sabia dos nossos planos. - Explica Pink.
  - Sabia?
  - Fizeram-nos uma emboscada.
  - Oh, não me digas. E resolveram o assunto?
  - Matámos todos.
  Lúcifer dá um murro na mesa fazendo-os tremer e saltar das cadeiras.
  - Vocês são incompetentes?!
  - Senhor... - Deak tenta acalmar o Pai.
  - Não te metas Deak! Mas será que estão todos contra mim agora?
  Cabisbaixos, eles murmuram umas desculpas sentidas.
  - As vossas desculpas não me servem de nada!
  A reunião é interrompida pelo bater na porta. Lola entra e entrega uma carta a Lúcifer.
  Depois de lida passa-a a Deak.
  - Quem é?
  - É o que vamos descobrir. A reunião está terminada. Voltem para as vossas vidas. Desta vez passa.
  Eles fazem uma vénia e Lúcifer e Deak desaparecem nas sombras do corredor de saída.

35 - O Desconhecido

  Night Eyes encontrava-se no Hell Bar a falar com Shijima e Mia que aparecera entretanto. Não tinham um tema de conversa, falavam de tudo e de nada, apenas para passar o tempo.
  Sentado ao balcão estava um homem que não tirava os olhos delas. Ninguém o conhecia por isso devia ser de fora.
  Lúcifer entra acompanhado de Deak e dirige-se até ao tal homem, tinha sido ele que andara a contar as novidades a Night Eyes e aos Híbridos.
  Com um sinal de aceno de cabeça o bar fica vazio.
  O homem olha em volta e pousa o copo esboçando um sorriso.
  - Quem és tu? - Pergunta Deak entregando-lhe a carta que Lola trouxera.
  - Sou apenas um mensageiro...
  - Sabes muito para um mensageiro.
  - O meu Mestre é muito sabedor.
  - E quem é o teu Mestre?
  - Um simples "Jardineiro".
  - Estás a brincar comigo?!
  - Não me atreveria a tal.
  Lúcifer aproxima-se e agarra-o pelo pescoço, os olhos furiosos:
  - O teu nome?
  - S-Spike...Senhor...
  - Spike, diz ao teu Mestre para não se meter nos meus assuntos, seja ele quem for.
  - Direi... Mas ele já se meteu.
  Lúcifer atira-o ao chão com violência.
  - Desaparece!
  Spike levanta-se e com uma vénia forçada dirige-se à porta.
  Ao sair olha para Night Eyes e sorri ao pousar um papel sobre o sofá perto dele.
  Quando ouve a porta a fechar-se, a rapariga vai até ao sofá e apanha o papel. Era dirigido a si:
"O teu tempo está a esgotar-se, és como uma rosa no Inverno mais cedo ou mais tarde morrerás. Precisas de o vencer e evitar uma guerra. O meu jardim espera por ti.
Ass: Niwashi"
  Colado ao papel estava uma pétala de rosa roxa, a rosa que sugara o seu veneno da tatuagem.
  Confusa, Night Eyes sai do bar e dirige-se à Biblioteca do Submundo. Quando chega à secção das plantas dá de caras com Yuyuko.

Imagem do Spike na página dos personagens ^^

36 - A busca pelo Jardim

  - Sakuya-sama?!
  - Yuyuko, o que fazes aqui?
  - Estou a pesquisar algo.
  Night Eyes pega na carta que estava na mesa rodeada de livros. O seu olhar de espanto faz Yuyuko entrar em alerta.
  - Yuyuko, quando é que recebeste esta carta?
  - Quando estávamos na missão. Na altura em que íamos atacar o esconderijo do Werewolf.
  - Quem é que te a deu?
  - Aquele homem do teu funeral.
  - O da rosa?
  - Sim. Como sabes?
  Night Eyes coloca a carta que recebera em frente a Yuyuko.
  - Ele quer que vás ter com ele! - Começa a perceber a fantasma.
  - O problema é que não sei onde.
  - Estás a pensar ir?!
  - Preciso de saber o que ele quer.
  - Mas... E o Pai?
  - Pouco me importa.
  Night Eyes começa a tirar livros das prateleiras velhas e empoeiradas. Sabia ser tempo perdido tentar procurar pelo nome, pois possivelmente era apenas uma alcunha, por isso começou pela busca do significado da rosa roxa.
  No submundo existiam centenas de milhares de diferentes tipos de flores e conseguir encontrar uma em especifico era quase impossível para alguém que não estava familiarizado com o assunto.
  - Sakuya-sama precisamos de alguém que perceba de flores. - Diz Yuyuko fechando o terceiro livro sobre flores para magia negra.
  - Quem? - Night Eyes lança um suspiro de derrota.
  - Um Duende ou um Elfo.
  - Uma herbanária.
  - Tens alguém em mente?
  - Traz a enciclopédia das plantas do submundo. Vamos ao mundo humano.
  - Ao mundo humano?
  - Sim.
  Sem mais palavras Night Eyes retira-se.
***
  Era anoitecer. A correria nas ruas era significativa, as pessoas regressavam a casa depois de um dia de trabalho.
  Algures numa rua apertada com pouca movimentação encontrava-se uma pequena loja de ervas idêntica às lojas das bruxas dos filmes de animação.
  A porta abre-se e a campainha de presença soa. Uma mulher com um olho vendado aparece ao balcão.
  - Boa tarde. Em que posso ajudar?
  - Boa tarde Erin.
  - Sakuya Night Eyes, és tu?
  - Que bom que te lembras de mim. - Night Eyes sorri.
  - Seria impossível esquecer, salvaste-me. E além disso estás na mesma.
  Há dez anos atrás, era Erin uma jovem adolescente, quando foi atacada por um demónio que a levou para o submundo. Lá esteve prisioneira durante cinco dias num jardim cercado. Foi salva por Night Eyes quando um monstro do submundo tentava executá-la. Apesar dos esforços Erin ainda ficou sem um olhos. A partir daí ganhou uma paixão pela botânica do submundo e dedicou-se a estudá-la.
  - Vim pedir-te um favor.
  - Supus que fosse algo assim. Diz.
  Yuyuko pousa a enorme enciclopédia no balcão.
  - Preciso que me expliques tudo sobre uma rosa. - Night Eyes olha-a seriamente.
  - Que rosa?
  - Esse é o problema. Não sei.
  - Assim será difícil. O que sabes sobre ela?
  - Originalmente é vermelha. Depois a tinta escorre e fica preta. Ao absorver o veneno de Lobisomem fica roxa. - Explica Yuyuko perante a cara perplexa de Erin.
  - Bom, com essas informações tão especificas não será difícil encontrar.
  - Também tenho uma pétala. - Night Eyes entrega a pétala à herbanária.
  Erin tira um frasco debaixo do balcão e corta a pétala ao meio. Um liquido prateado escorre para o frasco e a pétala fica preta. A mulher leva a pétala à boca e morde-a.
  Night Eyes e Yuyuko observavam atentas todos os passos de Erin.
  Depois de pousar a pétala ela murcha. Ao colocá-la novamente no veneno ela volta a adquirir a cor roxa e fica novamente fresca.
  - O que mantém a rosa viva é o veneno e pelo sabor amargo acho que já sei o que é. - Erin começa a desfolhar o grande livro.
  - Então? - Night Eyes estava a ficar nervosa.
  - Posso dizer que quem te deu esta rosa é um romântico.
  - Como assim?
  - A rosa em si é normal, mas foi cruzada com outra planta. - Erin vira o livro para as Híbridas. - Esta planta tem um poder medicinal estrondoso. Absorve qualquer tipo de veneno com que entre em contato. Quem fez esta fusão é um jardineiro com dons excepcionais.
  - Obrigado pela ajuda Erin.
  - E ainda posso ajudar mais. Esta planta só se cria num lugar do submundo, as Florestas Florais.
  - Já estiveste lá?
  - Algumas vezes.
  - Podes levar-nos?
  - Claro, mas sabes que só posso entrar no submundo a partir da meia noite e tenho de sair antes das seis.
  - Podes estar descansada.
  - Espero por vocês aqui.
  - Até logo.
  Elas saiem. A herbanária fica sozinha. Um nekomata sai de trás do balcão.
  - Erin-sama vai levá-las?
  - Vou. Devo-lhe isso.
  - É perigoso. Ele não vai gostar.
  - Que seja. E tu Pyon vens comigo.
  - Como desejar.
  - É uma divida e ele nada me pode fazer.

Imagens de Erin e Pyon na página.

37 - A flor conhece o Jardim

  As Florestas Florais são conhecidas no Submundo em especial pela sua vasta variedade de plantas. Bruxos, feiticeiros, magos, todos se recorriam da floresta para confecionar as suas poções e feitiços. Até demónios curandeiros, como Tsubaki, visitavam aquele sitio.
  Era um lugar sossegado e governado pela Natureza no seu estado mais avançado e, ao mesmo tempo, primitivo. Como tal, todo o tipo de seres habitava por lá.
  Night Eyes e Yuyuko encontravam-se perto da entrada das Florestas Florais à espera de Erin. Tal não é o a sua surpresa quando a vêem chegar com Pyon.
  - Boa noite senhoras. - Cumprimenta Erin. - Este é o Pyon, o meu fiel companheiro.
  - Ele é...
  - Sim, um Nekomata. Foi um "presente" do meu professor. Mas não podemos perder mais tempo, vamos indo que já se faz tarde.
  Os quatro metem-se a caminho por um trilho pequeno entre as árvores.
  Após uns longos minutos Erin pára obrigando os restantes a fazer o mesmo.
  - A partir daqui não toquem em nada por muito chamativo que possa parecer. E mais importante, não saiam do trilho.
  As Híbridas acenam em concordância e continuam a andar.
  O tempo parecia não passar e aquele caminho nunca mais acabava. A paisagem monótona baralhava-as e na verdade Night Eyes já não tinha a certeza por onde tinha vindo. Tudo lhe parecia igual e como se nem tivessem saído do mesmo sitio.
  Ao fundo uma mancha salpicada de todas as cores chama a atenção das Híbridas. No inicio julgavam ser uma miragem ou uma visão mas à medida que se aproximavam e a imagem se ia focando perderam essa convicção.
  Ao saírem do caminho da floresta deparam-se com um vasto campo coberto de flores e plantas de todos os tamanhos e formas, de todas as cores e espécies, e no meio dele um castelo cercado por uma muralha.
  - É ali que está quem procuram. Não posso avançar mais. O Pyon leva-vos até à entrada mas depois estão por vossa conta. - Anuncia Erin.
  - Espera, como é que sabes que quem procuramos está ali? - Pergunta Night Eyes agitada.
  - Porque ele é o meu professor.
  - Estás com ele? - Yuyuko puxa de uma elbow blade.
  - Não tenho conhecimento dos seus planos se é isso que querem saber. Mas se não forem acabarás por morrer. - Erin olha para Night Eyes.
  - Morrer?
  - O teu corpo está a entrar em colapso. Tens genes de demasiadas espécies em ti. Podem não te ter contado mas nunca houve um Híbrido Mestiço.
  - Porquê?
  - Todos morreram. Os seus corpos entraram em colapso e mataram-se. Ele é o único que te pode ajudar.
  E com isto Erin dá as costas e desaparece naquele caminho de árvores.
  Pyon faz sinal para o seguirem e começa a caminhar por entre as flores.
  Chegado ao portão da muralha ele faz uma vénia e entrega um frasco a Yuyuko.
  - Erin-sama disse para beberes. Ele pode tentar envenenar-te ou assim. Boa sorte. - Pyon dá um pequeno sorriso e transforma-se num gato afastando-se.
  - Parece que somos só nós. - Diz Night Eyes invocando a sua katana.
  O portão abre-se. O que em tempos fora o pátio do castelo era agora um jardim idêntico ao campo do exterior mas muito mais macabro.
  Dois homens saem de dentro do castelo. O homem mistério, Niwashi, e o demónio Spike.
  Niwashi abre os braços e o portão fecha-se.
  - Sejam bem-vindas ao meu jardim!

38 - Quem és tu?

  As armas do Inferno das Híbridas brilhavam com os raios de sol das Florestas Florais. Uma vantagem desta zona do Submundo, o sol raiava vinte e quatro horas por dia.
  Ninguém falava. Não se ouvia um único som. Era como se o mundo parasse para assistir a este confronto.
  Devido à capa não dava para ver que feições Niwashi envergava e muito menos que pensamentos lhe passavam pela mente.
  Quem deveria atacar? Porque deveriam atacar? E se atacassem?
  A concentração é quebrada por Spike que, sem que se dessem conta, ataca por trás separando Night Eyes de Yuyuko.
  - Não tenho nada contra ti Princess Ghost mas a tua função no meu plano já foi concretizada por isso agora aguarda na minha sala especial. - Niwashi puxa uma alavanca e Yuyuko cai por um buraco aberto debaixo dos seus pés. - Agora nós minha flor. Demoras-te muito a chegar.
  - O que quer de mim?
  - Isso é maneira de falar com a pessoa que te salvou a vida?
  - Não lhe pedi nada.
  - Se não fosses tu quem derrotaria o inimigo do Inferno?
  - Neste momento você é o meu único inimigo.
  - Se é assim que pensas não vejo outra alternativa senão acabar com o teu sofrimento.
  - Como assim? - Night Eyes assume uma posição de alerta redobrada.
  - Vais morrer. Suponho que a minha pupila te tenha contado os pormenores. Boa sorte.
  - Mas... - A voz da Híbrida falha ao sentir a sua própria katana trespassá-la.
***
  Algures numa arena nos subsolos do castelo Yuyuko sente um calafrio.
  - Isto não é bom. Tenho de sair daqui.
  Uma porta abre-se e Spike junta-se a ela.
  - O desejo do meu Mestre é que lutemos.
  A Fantasma encara-o.
  - Não precisas de te controlar. Só se me venceres é que poderás sair.
  - Se lutar não é só para vencer.
  - Perfeito.
  A luta começa. Nenhum deles se continha. Faíscas saltavam do choque entre armas. A arena, a luta, tudo fazia lembrar a era dos Gladiadores.
***
  No piso de cima Night Eyes, de joelhos no chão, sangrava pelo orifício feito por Izanagi. Na verdade nem ela se apercebera do que acontecera, a única certeza é que estava gravemente ferida.
  - Yare, yare... Mas quantas vezes é que já morreste? Acho que vou começar a acreditar na imortalidade graças a ti. - Niwashi senta-se na escadaria que leva ao interior do castelo.
  Night Eyes apertava a barriga na tentativa falhada de parar a hemorragia.
  - Quem...quem...és tu?
***
  Na arena o cansaço era notável em ambos os lutadores. O suor escorria-lhes pela cara e a respiração ofegante não deixava margem para dúvidas.
  Yuyuko há algum tempo que pressentia que algo não se encontrava bem e por isso o seu desejo era acabar aquilo o mais depressa possível. Pelo contrário Spike queria e precisava de atrasar a Híbrida. Na verdade não esperava que ela fosse tão boa.
  - Já percebo porque pertences aos preferidos de Lúcifer.
  Ignorando o comentário Yuyuko começa a pensar numa estratégia. A única maneira de ganhar e sair dali seria usar todo o seu poder.
  - Desculpa mas não tenho mais tempo para brincar contigo. - O corpo de Yuyuko começa a brilhar.
  Em posição defensiva Spike preparava-se para o ataque mas inexplicavelmente os golpes vieram muito mais fortes que os anteriores e sem poder fazer nada tomba.
***
  - Quem és, o que queres. Tantas perguntas e a única resposta é que estás a morrer. Outra vez.
  A visão de Night Eyes começava a ficar turva. Mais cedo ou mais tarde cairia inconsciente e só a escuridão infinita a esperava. Sabia qual era a sensação de morrer, já passara por isso.
  - Uma simples frase e terás todas as tuas respostas.
  Night Eyes não aguentava mais. A dor dilacerava-lhe o abdómen e a mente estava lenta, quase não alcançava o mundo externo. Não havia mais nada a fazer. A vingança, os amigos, a guerra, tudo estava perdido. Mas...
  - S-Salva-me. Eu...EU NÃO QUERO MORRER!!!
  O homem levanta-se das escadas e a capa cai ao chão.
  - Eu, Niwashi, o Mais Antigo Híbrido concedo-te o meu poder!  

*Nova imagem de Niwashi (com o rosto dele) lá na página

39 - O verdadeiro poder

  "Eu, Niwashi, o Mais Antigo Híbrido concedo-te o meu poder!"
  Um remoinho de vento cobre o corpo de Night Eyes irradiando uma luz branca ofuscante.
  Yuyuko aparece. O seu olhar surpreso alternava entre Niwashi e o casulo que se formava à volta da sua mestre.
  Com uma explosão a luz dispersa-se e no centro de uma cratera Night Eyes encontrava-se agachada, enrolada sobre si. Nas suas costas repousavam duas asas, uma branca e uma negra, e os seus olhos anteriormente azuis eram agora um vermelho e um azul.
  Niwashi estava confiante e Yuyuko balançava entre a total admiração e a alegria.
  Night Eyes aproxima-se deles.
  - Então tu...
  - É verdade. Quem diria não é? - Sorri Niwashi.
  - Mas se tu és um Híbrido...
  - Sou um Híbrido diferente de vocês. O meu pai era um Elfo e a minha mãe uma Bruxa. É um casal improvável tendo em conta que os elfos são muito recatados, mas a minha mãe tinha o seu charme.
  - Então e agora? - Yuyuko chega-se à frente.
  - Agora é a hora em que tu, Sakuya, terás de juntar o teu novo poder com os ensinamentos da Mestiça e do Mais Antigo Lobisomem.
  Niwashi começa a entoar uma melodia enquanto desenha símbolos com as mãos. Um monstro do Inferno ergue-se do chão berrando para os céus a sua carta de liberdade.
  - Este é o teu teste. Mata esta besta. Mas fica a saber que ele está preso há algum tempo, deve estar bastante enfurecido.
  Night Eyes consente e caminha em direção ao animal invocando a sua katana.
  O Mais Antigo estava certo, mal o animal meteu os olhos na afilhada de Lúcifer atacou sem limites pronto a matar.
  O duelo havia começado.
  - Niwashi-sama, o que vai acontecer depois? - Pergunta Yuyuko observando a luta.
  - Bom, - Niwashi lança um suspiro - vamos esperar que os poderes dela cheguem ao máximo.
  - Mas porquê a pressa?
  - Eu não queria revelar isto já mas o Inferno está a preparar-se para a guerra.
  - Como?!
  - O Werewolf atacará nas próximas horas. Ele quer vingança.
  Apesar da luta, graças à sua audição de lobisomem, Night Eyes conseguira ouvir a conversa.
  O Inferno ia ser atacado. Podia estar a sê-lo agora. Os amigos, o Padrinho, a sua casa.
  Não podia esperar, aquela luta era insignificante. A vingança que ela tanto ambicionava estava cada vez mais perto. Era agora ou nunca.
  O poder começa a fluir dentro dela. Num segundo tudo estava parado, noutro a Híbrida abria as suas asas e atacava.
  O corpo da besta cai ao chão inerte numa poça de sangue.
  - Eu diria que ela nos ouviu. - Observa Yuyuko.
  - Lobisomens.
  Night Eyes embainha a katana numa bainha que carregava às costas:
  - Niwashi, vamos.
  - Eu não posso. Não tenho poder para ir até aos territórios de Lúcifer. Ficarei a assistir de fora, se a situação se complicar arranjarei maneira de interceder. Leva o Drago contigo, ele ajuda-te. - Um pequeno dragão voa para o ombro da rapariga.
  - Muito bem. Yuyuko vamos. O Inferno espera-nos.

#Imagem do Drago na página, com ele em pequeno como aparece agora e em adulto.#

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